terça-feira, 23 de outubro de 2012

Whisky forte. Cigarro forte. Abraço forte. Tudo forte, só pra compensar um coração tão fraco...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Como os tigres



As montanhas se movem um pouco, eu acho. O firme e intacto também podem se modificar. Hoje escutei que os tigres velhos, quando percebem que estão chegando ao fim, não param de lutar, combatem até o ultimo instante. Entendo a determinação, só não entendo porque ser tão determinado, suas vidas não passam de rotinas; comer, dormir, procriar, e só. Já a minha, quase como a dos tigres; comer, dormir, trabalhar, não procriar e sentir saudades. Saudade de tudo que já percorri antes, tudo mesmo, erros e acertos, desde chorar embaixo da cama, até passar madrugadas muito loucas em lugares quaisquer. 

 
Sinto falta do sereno arrepiando meu cabelo e da fumaça do cigarro na minha traquéia, do gosto do whisky e da tontura, até das náuseas, sinto falta dos olhares, das músicas e do shorts curto, e também do salto alto, das tardes na beira de um rio, e do abraço apertado nas horas de dificuldade, das críticas sinceras e da preocupação, sinto falta da euforia. Mas principalmente das pessoas, estar afastada delas deixa um buraco no peito, que as vezes a vontade é sair correndo e dar um abraço, falar algo bonito ou mandar uma mensagem, só pedindo “oi fulano, como você tá? Tenho saudades...” 

Sempre tive tudo e todos como algo tão concreto que não consigo acreditar ter fim, vou ser sempre a sapatinha, o chaveirinho, a mulher macho ou qualquer outro apelido irritantemente carinhoso que pudessem me dar, vou brigar junto e derrubar garotos com um soco, pra depois correrem me defender, vou escrever cartões de amor e escolher presentes pras namoradas, vou pagar a mesma quantia porque bebo tanto quanto ou até mais, e na hora do aperto é pra mim que vão ligar, me busquem e me levem mas estejam sempre junto comigo.

Ou pra sempre longe, a partir de agora, porquê eu fui a égua fraca que se deixou domar, a cadelinha dengosa que aceitou ter coleira, ou a boba mesmo que acreditou que a vida poderia ser melhor ao lado de alguém que exige escolhas, alguém que te prende somente a ele, alguém que nem se quer respeita sentimentos de luto e auto piedade, alguém que acredita sentir amor, mas amor não é isso, isso é obsessão. Meus braços pesam e minhas pernas estão fracas, sabe-se lá até quando meus pés aguentam a caminhada, e a minha montanha, a minha montanha era de areia, com o tempo ela se desfez e não posso mais encontrá-la.  Mas também como os tigres, não posso deixar de lutar por ela, mesmo no fim.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos é menor do que há alguns anos. Dá-se conta de que é cada vez mais difícil vê-los e organizar horários por diferentes questões: trabalho, estudo, namorado(a) etc. E cada vez desfruta mais dessa Cervejinha que serve como desculpa para conversar um pouco. As multidões já não são ‘tão divertidas’, às vezes até te incomodam.

Mas começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo. Você começa a perceber que algumas pessoas são egoístas e que, talvez, esses amigos que você acreditava serem próximos não são exatamente as melhores pessoas. Ri com mais vontade, mas chora com menos lágrimas e mais dor. Partem seu coração e você se pergunta como essa pessoa que amou tanto e te achou o maior infantil, pôde lhe fazer tanto mal. Parece que todos que você conhece já estão namorando há anos e alguns começam a se casar, e isso assusta!

Sair três vezes por final de semana lhe deixa esgotado e significa muito dinheiro para seu pequeno salário. Olha para o seu trabalho e, talvez, não esteja nem perto do que pensava que estaria fazendo. Ou, talvez, esteja procurando algum trabalho e pensa que tem que começar de baixo e isso lhe dá um pouco de medo.

Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o que quer e o que não quer. Suas opiniões se tornam mais fortes. Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando um pouco mais do que o normal, porque, de repente, você tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do que é aceitável e do que não é. Às vezes, você se sente genial e invencível, outras… Apenas com medo e confuso.

De repente, você trata de se obstinar ao passado, mas se dá conta de que o passado se distancia mais e que não há outra opção a não ser continuar avançando. Você se preocupa com o futuro, empréstimos, dinheiro… E com construir uma vida para você. E enquanto ganhar a carreira seria grandioso, você não queria estar competindo nela.

O que, talvez, você não se dê conta, é que todos que estamos lendo esse texto nos identificamos com ele. Todos nós que temos ‘vinte e tantos’ e gostaríamos de voltar aos 15-16 algumas vezes. Parece ser um lugar instável, um caminho de passagem, uma bagunça na cabeça, mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas vidas e não temos que deixar de aproveitá-la por causa dos nossos medos… Dizem que esses tempos são o cimento do nosso futuro. Parece que foi ontem que tínhamos 16… Então, amanha teremos 30. Assim tão rápido..

Autor desconhecido

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Tudo era lindo quando não era eu.

Tenho saudade de mim antes dos doze anos, eu era autêntica, desobediente e esperta. Reprimida em todos os sentidos, mas feliz, mesmo ficando extremamente chateada quando chamada de provalecida, levando puxões de orelha e proibida de quase tudo, mas acabava fazendo sempre tudo igual, o contato mais próximos de muitas pessoas que eu tinha, era quando eu batia no Rafael Scaravelli e no Fernando Socolovski no final da aula... 

Sempre fui metade, nem mais velha pra ser a responsável, nem mais nova pra ser o xodó, era o encosto, pra quem os adultos mentiam quando iam pra um lugar que eu adorava ir, ou iam escondido, era quem levava a culpa das peraltisses, era a má influência. As vezes, eu paro pra pensar que eu era como eu era, por ter sido tão rejeitada, a culpa não era minha, só queria atenção.
Eu guardo magoa, não rancor ou ódio, é só magoa e as vezes um pouco de raiva, e por mais que tenham se passado anos, a raiva e a mágoa ainda são bem fortes, bem mais que eu. Não vou dizer que as pessoas poderiam ter sido mais amáveis, que talvez eu me aproveitasse disso, mas poderiam ter pelo menos me dado o direito da igualdade, e não o rótulo de terrível, paulo paulada ou qualquer outro apelido que com toda certeza eu odiava, ou simplesmente não sentia nada, as vezes tristeza, e mesmo não aprontando nada, o preconceito comigo era grande.

Quem sabe seja a tristeza fechando meus olhos, mas as partes felizes da minha infância eu lembro sozinha, eu e meu cavalo ou minhas bonecas, meus cachorros e meus gatinhos, ou minhas amigas, que conto nos dedos de uma mão, e sobram, quando tento lembrar das pessoas ao meu redor, não lembro nada bom, sempre a Rafaela.

É que era fácil, era só o xodó chorar, delicado demais pra ser xingado, afinal ele sofreu tanto quando era bebê, coitadinho do prematurinho que tinha que mamar na colherzinha, ficar trancado dentro do quarto com o aquecedor ligado, ninguém mandou meu tio ser um asno e fazer minha tia empurrar um carro, e o queridinho também cresceu, e as coisas passam. Eu não era delicada, fazia sozinha o que tinha que fazer, me virava, mas ainda assim precisava de carinho.

 Tudo era lindo quando não era eu. Passar a mão em um cavalo era lindo, menos eu, eu ia subir sobre ele e fugir, ou cair e quebrar um braco, iam perder tempo no hospital comigo, brincar com os cachorros era lindo, mas eu ia levar uma mordida com certeza, talvez achassem que os animais alimentassem o mesmo tipo de ódio por mim, o xodó podia dirigir precocemente, eu não, era muito nova e pequena, mesmo sendo mais velha e maior, o peixe dourado que meu pai pescou não foi meu, era meu pai mas e dai? O xodó precisava mais dele do que eu, o anel de ouro que ele achou e me deu também não ficou comigo, adivinha porque? E no aniversário, que enquanto ele ganhava um escapulário de ouro, na época setecentos reias, eu ganhava um óculos que a responsável não usava mais, mas só se eu quisesse, porque financeiramente não estavam bem, mesmo comprando uma camionete de cem mil reais...

Família é um trosso complicado, mas agora me pergunte se alguma vez, naquela época eu os odiei, eram tudo pra mim, eram quem eu conhecia e quem eu mais amava. Agora, ainda extremamente nova, com pouquíssima mais experiência que na época, eu posso ver algumas coisas, e lembrar de outras poucas, tirar minhas próprias conclusões. E o dia que me disseram  "se aproxime do seu primo, ele é um gigante", eu pensei comigo, "NUNCA", gigante porque? porque trabalha? ou porque suporta o pai dele? Acho que a moral é tanta porque algumas milhares de vezes quem assumiu a culpa não foi ele, eu sempre o influencia para o lado negativo, até mesmo agora, e jogar nos outros é fácil, quero ver é ter peito pra assumir o que você nem fez. E mesmo com tudo isso, não teve a consideração de convidar pro casamento.

E os outros? Tudo isso pra que? Porque meu filho também é prematuro? Mesmo assim não é digno de pena, porque pena e super proteção é para os fracos, e ele sim, ele sim é guerreiro. Então estou dispensando o tratamento especial, porque não quero pro filho do xodó o mesmo que foi pra mim, cada obstáculo fortalece, e as grandes dificuldades nos tornam grandes pessoas. E se for por culpa, também dispenso, você não pode mais corrigir seus erros.

terça-feira, 3 de julho de 2012

É que era amor...



Na minha concepção era amor, amor puro e sincero, amor que não se mede, amor que anos não poderiam separar e pessoas não conseguiriam destruir, e eu esperaria o tempo que fosse preciso pra ele ver isso, porque era amor, é amor... e o "ser amor" era o que nos manteve juntos, era o que fazia gostar tanto da cara de bobo e de quando pedia colo ou alguma ajuda, como em um dia dos namorados que pediu que eu escolhesse um presente e um cartão pra mandar pra outra menina, e ainda que escrevesse, e que pensasse no que escrever, porque ele não sabia... Só que era amor, e o amor tolera tudo, e ele me amava, só não havia descoberto ainda... Era amor quando me cuidava, era amor quando não queria me beijar, era amor quando brincava comigo, era amor quando me buscava em casa, era amor quando bebíamos juntos, era amor quando brigava comigo, era amor quando me olhava, era amor quando me tirava pra dançar, era sempre amor... Só que era amor pra mim, não pra ele... Só que não era amor, ainda é... (L)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Vim tirar alguma coisa boa do que me faz tão mal.

Eu nunca acreditei que tivesse medo de algo, mas nos últimos meses acabei conhecendo de perto o real sentido disso... Eu que nunca baixei o nariz pra nada e ninguém, sempre temperamental e determinada, lutando contra o que eu não acreditava, debatendo e tentando convencer que ninguém mais estava certa além de mim. Descendo o nível pra bater boca, e quem sabe socar alguém, porque eu não tinha medo, acreditando tanto no meu potencial que nem meu pai poderia me encostar a mão, e se encostasse, eu não sentiria dor e certamente revidaria.

Não gosto de falar em caminhos, mas sim em escolhas, e sempre julguei muito as escolhas que eu considerava erradas, e julgava mais ainda as pessoas que optavam por elas, não entendia nem aceitava o sofrimento com tantas outras direções. Direção a minha que não escolhi, e tenho raiva pela vida ter me mostrado que eu estava errada, as coisas podem sim tomar um rumo que não queremos, e tendo um pouco de ética (ou medo), você não é capaz de mudar quase nada...

Nunca tive medo das pessoas e nem do que poderia acontecer com as minhas atitudes, estava aberta a mudanças e incertezas, e amava isso... Já respeito, respeito sim, me ensinaram ser tolerante e escutar, mas se eu estava certa, o que você tem pra me falar não faz diferença alguma, e se seu tom de voz se mantem baixo, talvez eu só escute e não concorde, tenho preguiça de convencer, você é ignorante e não entenderia, mas se eu resolver debater, não quero apenas argumentos, segure no mínimo oito pedras na mão...

Só que agora me olho no espelho e não me reconheço. Talvez tenha perdido o tesão de viver, talvez convencer alguém a algo não faça mais sentido algum, brigar pra que se EU TENHO MEDO? Medo sim, medo de me magoar, jogar tudo pela janela, e quem sabe levar uns tapas, eu nunca liguei pra isso, PORQUE EU LIGO AGORA? Acho que acabei amolecendo. Não posso ter mudado tanto, ainda sou a mesma pessoa, eu queria ter coragem de novo de mandar tudo a merda, dizer o que sinto pra quem der na telha. Em que parte do caminho eu perdi isso?? Queria voltar pra buscar...

Mas da próxima vez, eu prometo pra mim mesma, que eu vou revidar, encontrar coragem e largar o medo em algum canto que quando precisar eu cato, se é que vai precisar... O jeito que aconteceu enfiou na minha cabeça que ele tinha total domínio sobre mim e que eu seria a pior pessoa do mundo se não o obedecesse. Mas eu sou a pior pessoa do mundo obedecendo ou não. Se quiser ir embora que vá, se quiser gritar também vou, se me tratar mal também sei fazer, e não haverá desculpas, e se toda a minha ousadia ainda ocasionar alguns tapas, eu também sei bater, e se doer em mim, nele também vai, bem mais, porque ele acha que me ama, já eu não tenho mais tanta certeza assim... 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Só um começo


São minhas primeiras horas sozinha com o Gabi, não me sinto mãe, e não consigo descrever como é isso, mistura-se aflição e um pequeno desespero, somado a inexperiência e a sensação de que ele não está bem comigo. Não consigo que ele mame e nem que respire, me agonia a necessidade gritante de máquinas. E quando resmunga é como se gritasse por socorro ou me pedisse que que fosse embora e o deixasse com alguém que ele ame.

Hoje ao acordar o céu parecia mais azul, me recordo de ter visto esse céu apenas uma vez, o ar parecia mais leve e puro, a água era doce, encarei como sintomas de felicidade.

Meu bebê não chora, ele acorda, é alimentado e logo volta a dormir, as vezes grita, de dor, e a impotência que possuo perante a situação é desesperadora. Tenho medo de dormir, medo de acordar e ele não mais respirar, medo que ele sinta dor, medo de machucar, medo, medo, medo, e medo.

Já carreguei algumas cruzes, se não suportasse o peso tudo bem, eram minhas, agora carrego a dele e sou responsável por ela, não me sinto preparada para cuidá-lo, sou incompetente e desorganizada, e acredito que também não esteja pronto para ficar ao meu lado. Ao contrário do esperado, tenho mais agonia do que qualquer outro sentimento, eu esperava um dia claro com balões e flores, palhaços e pôneis, aonde estão os pôneis?

Nesses três meses de uti vi e ouvi muitas coisas, conheci bebês que apenas recebem um banho de luz e vão embora, a bebês anencéfalos e hidrocefálicos que ganham alta, percebi que nem sempre a grama do vizinho é a mais verde, e que nas horas de necessidade nos apoiamos nas mais distintas e inesperadas coisas, e acho que aprendi a ser forte, conheci a intensidade dos sentimentos, desespero, medo, compaixão, pena, raiva, solidariedade, indiferença e a felicidade, principalmente felicidade... Vi pessoas tão altruístas, com uma tamanha ternura que relatar é difícil. Eu conheci vida e morte, vi lutas e vitórias de pequenos pequeninos, e um gigante não teria tanta força para continuar. Não consigo descrever essa fina linha entre viver e morrer, a única sensação são picos, picos de vida e picos de morte, e cada pequeno instante é uma vitória.


sábado, 21 de abril de 2012

Amor Incondicional

Eu nunca soube ao certo o que queria da minha vida, fiz uma faculdade por fazer, namorava por conveniência e agia por instinto, mas eu sempre soube exatamente o que eu não queria, filhos incluíam-se nessa lista... Também sempre fui daquelas que acredita ser dona do próprio destino, e que nada que possa ocorrer mudaria meu cotidiano, a menos que eu escolhesse mudá-lo... Só que pra mim não foi assim, tudo fora do esquadro, uma gravidez indesejada de uma pessoa que eu nem conhecia e nem sequer gostava, e que mesmo assim insistiu em ficar do meu lado apoiando e dando força pra tudo que eu precisasse. Ao me dar conta me sentia presa a tanta coisa que nem era possível distingui-las, sempre fui tão "eu", agora eu era tão "eles"...

Odiava o fato de ter algo crescendo dentro de mim e me dando chutinhos, que as vezes machucavam, odiava as náuseas e as estrias, odiava mais ainda quando me reprimiam e tentavam me dizer como agir, e no auge do meu egoismo, a culpa era inteira do meu bebê. A raiva que eu mesma provocava e direcionava a todos em nome dessa gravidez era tão grande que as vezes sentia vontade de arrancar os cabelos, e eu arrancava, e também sumir, e eu sumia, mas com o simples intuito de me sentir um pouco sozinha, eu nunca me sentia sozinha...

Não sei afirmar em que tempo aceitei o fato de ter um bebê, e eu tinha ódio de mi m mesma pela irresponsabilidade, e em alguns surtos de consciência eu procurava felicidade com tudo isso, e por vezes conseguia.

Esse bebezinho nem tinha nascido, e eu direcionava a ele e ao pai dele todos os problemas da minha vida, eu estava certa e o mundo todo errado, ninguém tinha o direito de desestabilizar o meu dia a dia.

Fui egoísta ao ponto de desejar perdê-lo, e não sei dizer se fui forte demais por possuir todo esse ódio e ainda cuidar para que sempre estivesse bem e junto comigo, ou fraca demais por esperar que a natureza fizesse uma coisa que eu logo poderia ter feito. E a natureza fez, internei em uma madrugada com ameaça de aborto, sem dor nem sangue, apenas a bolsa de líquidos do bebê saindo de dentro de mim... E eu tive medo, mais medo que eu já senti em qualquer situação já vivida, mas o medo não era por mim, e sim por ele... O nome disso é incompetência istmo cervical, meu colo uterino não possui força para se manter fechado conforme o aumento do peso da bolsa e do bebe, e quanto maior o  tempo de gestação, maior a dificuldade e maior o risco de parto, ou no caso das vinte e uma semanas, maior o risco de aborto.

A primeira notícia era que a gestação não seria levada até o fim, e isso não era justo, ele tinha que nascer bem, ele é meu, é uma vida, e ele era forte e queria ficar ali dentro, ele me chutava e isso era o maior sinal de amor que ele podia me dar.

Encaminhada para uma ultrassonografia, com a mesma roupa da madrugada, ciente que perderia o bebê. Era um menininho, já pesando 500 gramas, um bebê grande para a idade gestacional. Já possuía 3 cm de dilatação no colo, era só esperar atingir 5 cm pra ele nascer, meu bebê também não estava encaixado, o que permitia mais alguns dias, quem sabe horas aqui dentro de mim. As suas perninhas estavam para a direita e a cabecinha para a esquerda, e foi só isso que o manteve ali, ele quis ficar e eu lutaria para que isso fosse possível. Mas as minhas lutas não deveriam exigir tanto esforço, e muito menos sacrifícios, e ao escutar a conduta médica eu quis novamente desistir, afinal, quem ficaria alguns meses deitada, tomando banho e fazendo necessidades na cama? Mas foi assim, mesmo querendo, ninguém me deixou decair, dei entrada no hospital na quarta feira, as 17:00 h, com medo do que viria pra mim e pro bebê, culpa de tudo que estava acontecendo, e vontade de ir pra casa.

Chorei bem menos do que esperava chorar, e não fiquei abatida na maioria dos momentos, talvez a minha irresponsabilidade sirva para algo, não entender realmente a gravidade das coisas.

Me mantive deitada por 27 dias, e ao contrário do que eu esperava, fui apenas piorando, a dilatação aumentava, agora eu tinha sangramentos intensos e dor, mas pra compensar o bebê crescia, ganhava peso e  maiores condições de sobreviver.

Os sangramentos iniciaram conforme o colo do útero dilatava, sem dor, ele apenas dilatava, e a dor veio quando iniciaram as contrações, algum tempo depois do sangue. As vezes era como perder todo o sangue do corpo por ali, sangue quente e vivo. As contrações eram inibidas com medicamentos, mas elas causavam a abertura maior do colo, era cada vez mais dor, e mais espaço. Recebi em torno de 40 picadinhas, quem sabe mais, ou menos, eu já não tinha mais veias boas para os acessos, a musculatura ardia em injeções, e quase sem perceber, meus braços e pernas atrofiavam devido a falta de esforço, quando me dei conta eu tinha secado, virado pele e osso, com uma barriga grande.

Nas ultimas semanas as dores eram mais intensas, tão fortes que nem lágrimas vinham aos olhos, não conseguia falar, apenas gemer e retorcer meu corpo. Não entendia a origem daquelas dores, eram facilmente controladas, e isso significava que não eram sérias, só que eu já tinha 7 cm de dilatação, contração, e o meu bebê não nascia. 

Na madrugada do dia 15/02 ele teve que sair, e foi mais rápido que eu esperava, ele era pequeno, minha dilatação era enorme, e as contrações muito fortes, não podendo mais serem inibidas devido a toxidade do medicamento usado por longo tempo. Eram 5:00 h, no quarto mesmo, minha madrinha segurando minha mão direita, uma técnica em enfermagem do lado esquerdo, o médico do lado direito me dizendo o que fazer, "respirar, contração, trancar, forçar, sair", a sensação era horrível, eu já não possuía força muscular para empurrá-lo para fora, foram duas vezes, e eu escutei um chorinho tão lindo que era inexplicável. As dores da contração acabaram naquele momento que o bebê saiu, um bebê minusculo de 25 semanas, chamado de prematuro extremo, com 700 gramas. Não pude nem vê-lo direito, logo foi entregue a pediatra para serem tomadas as medidas necessárias para sua sobrevivência, não possuía nenhum órgão funcionando perfeitamente, e aperfeiçoaria tudo isso na UTI Neo Natal, era necessário um tubo que levava oxigênio aos pulmões, uma sonda que levava alimentação até o estômago, um acesso venoso para os medicamentos, luz e ar quente para manter a temperatura que era difícil mesmo dentro da encubadora.

A gente tinha se separado, e agora só dependia dele e da equipe médica responsável, ele foi levado e eu fiquei ali caída, com a placenta ainda dentro de mim, a dor para a retirada foi ainda mais forte que as contrações, uma mão do médico dentro do meu útero e a outra no meu umbigo, precionando, rodando e puxando, a minha garganta arranhava em gritos, quando terminou eu tinha adrenalina demais para dormir, e força de menos para me mover, não sentia nenhum músculo do meu corpo, tinha medo pelo bebê, e culpa por não ter conseguido ficar mais tempo com ele.

Pude vê-lo ao meio dia, só vê-lo, já estava limpa, usando fraldas e ainda sangrando, não conseguia me manter em pé, precisava ser levada sempre com uma cadeira de rodas. Não conseguia pensar em nada ao enxergá-lo, só tinha uma louca vontade de chorar, mas não fiz, encontrei também alguma fé dentro de mim para rezar e pedir por ele, afinal, Deus não poderia ser tão cruel.

"As chances não são grandes, 30% apenas, mas faremos todo o possível", e mesmo com um percentual tão pequeno eu sabia que ele tinha vindo pra preencher a minha vida, e que um bebê que tinha chego até ali, não iria desistir e estaria forte e pronto pra ir pra casa em alguns meses, ele chegaria ao fim daquele horror. 

Mesmo em um emaranhado de esperança, fé e medo, eu ainda tinha espaço para a culpa, culpada por em algum momento atribuir a ele alguma desgraça da minha vida, eu que fui fraca por não querê-lo, e as vezes entendia tudo o que estava acontecendo como uma prova pra mim mesma, pra mostrar que eu o queria sim, mais do que eu imaginava, e então isso me dava mais raiva, porque ele só estava ali pra provar pra mim que eu o amava. Olhando ele, eu soube que ficaria os nove meses no hospital, levaria 80 picadas de agulha, sentiria dor a gestação inteira se ele estivesse bem, era só ele que importava.



Hoje ele completou um mês de vida, um mês de UTI, um mês de luta, e nos seus altos e baixos ele surpreende todo mundo, se mostra guerreiro e com vontade de viver, e possui mais força que muita gente grande, mesmo daquele tamanhinho. Pra ele foi dada a vida, e pra mim uma segunda chance, de provar o quanto eu o amo e o quero bem, e que sem ele, nenhuma vida tem sentido...



Escrito dia 15/03/2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Nada nostálgico...


Que outro nome poderia se dar além de nostalgia? A sensação de voar por tantos céus para posteriormente ter suas asas cortadas, posso enxergar algumas plumas coladas em mim, mas que ainda assim não me permitem sair do chão. Fui dona do mundo e o perdi, tive as madrugadas como companheiras nas quais não sou mais bem vinda, meus laços eram intensos, mas apenas laços, que poderiam ser desfeitos a qualquer momento... Estou pulando fases, mas deixando a porta de alguns ciclos entreabertas, para poder dar uma espiadinha sempre que a saudade apertar, e lembrar que agora a realidade é outra, e as responsabilidades concretas...